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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Sobrevivendo às internações hospitalares 2

Fui de emergência para o Pronto Socorro, com suspeita de estar infartando. A recomendação do meu médico sempre é: corre e depois me avisa. O que é absolutamente compreensível em se tratando de uma pessoa que tem problemas cardíacos e que, normalmente, precisa ser atendida o mais rápido possível. Portanto, não adianta ficar tentando localizar o médico quando se começa a passar mal. Tem é que correr mesmo, depois a gente avisa e ele entra no esquema. Foi exatamente essa a situação. Da emergência fui direto para a UTI cardiológica. E aí começa... só havia três pacientes. O entra e saí do pessoal da enfermagem é absurdo. Todos falando alto, bem alto e, para nosso azar, a porta estava sem aquela mola que faz com ela abra e feche de maneira mais suave. Então era uma bateção de porta insuportável – isso me traumatizou a ponto de, atualmente, eu ficar estressada com portas batendo. A médica cardiologista que veio acompanhar o meu caso, imediatamente, prescreveu uma cineangiografia cardíaca, ou o popular cateterismo. Meu médico chegou e foi conversar reservadamente com a plantonista, colocando-a a par da minha situação e discordando do procedimento que, àquela altura, para ele, não parecia ser o mais recomendado por causa do meu histórico. Houve um pouco de discordância quanto ao procedimento, mas acabei ficando lá, quietinha, sem fazer o tal exame.
Quietinha, modo de dizer, né? Foi aquele dia fatídico. em que aquele rapaz entrou na escola municipal, em Realengo, e saiu atirando pra todos os lados, matando crianças e jovens. Havia uma televisão na UTI – alguém pode me dizer por que há televisões nas UTIs??? A equipe de enfermagem sequer olhava pra cara dos pacientes... todos grudados nas imagens da TV! E nós, os pacientes, também acompanhando detalhadamente, o massacre. Nada mais adequado, né? Fiquei bastante agitada com aquilo tudo, afinal, eram as “minhas” crianças; uma das “minhas escolas”... Não posso dizer que foi bom. No dia seguinte, fui encaminhada para o quarto – que é compartilhado. E aí começa outra etapa que é tomar conta das técnicas de enfermagem para verificar se estão me dando a medicação certa. Entre um equívoco e outro, vamos caminhando. Meu médico veio “passar a visita” e, a primeira coisa que repara é a TV ligada no massacre – que perdurou dias, passando e repassando as imagens terríveis – e que minha vizinha de quarto assistia e comentava avidamente. Ele desliga a TV. Faz a visita e sai para prescrever minha medicação e tomar outras providências. Moral da história: assim que meu médico foi embora, a chefe da enfermagem entou no quarto, me encarou, e disse: “que medicozinho escroto esse seu, hein? Só sabe dar ordens!” Esse hospital não foi o mesmo da outra internação já descrita aqui, ou seja, não importa o local, a formação dos profissionais é péssima e as rotinas absolutamente despropositadas.

Um comentário:

  1. Nãome causa espanto... O objetivo de aparelhos de TV dentro de uma UTI deve ser para disfarçar o medo dos moribundos... Coisa do tipo "Você aí reclamando e gente numa pior que a sua".. Uma outrahipótese seria de nocaso de uma UTI coronariana acelerar o processo da morte lenta do cardíaco aumentando assim a rotatividade dos leitos.
    No caso daquele dia, especialmente para nós, o que estava acontecendo era com as nossas crianças em uma das nossas escolas... Nosso envolvimento naquilo tudo era muito maior. Passava de notícia... ia além e a sensação de impotência era muito grande e deprimente. Depressiva.
    A chefinha da enfermagem do famigerado hospital já está acostumada com o sistema.
    Uma amiga minha internou seu pai num hospital desse tipo e pediu, já que o pai estavalúcido que colocassem uma TV na UTI para que ele se ditraisse um pouco enquanto ela iria emcasa tomar um banho e trocar de roupa... Com muita dificuldade conseguiu a TV. Quando voltou de casa sentiu qua as pessoas outrora sorridentes do hospital a olhavam com frieza e rancor... aí ela descobriu que a TV que estava na UTI com o pai dela havia sido retirada da sala da enfermagem... Para as enfermeiras, tal fato era um absurdo... Logo,logo seu pai passou para o outro lado da vida, a TV voltou ao lugar para a alegria de enfermeiros e do pessoal da limpeza...
    Na minha última gravidez, passei horas ouvindo os gritos de uma mulher desesperada, ela urrava de dor mas a equipe do hospital queria um parto normal. Sorrateiramente desci os andares, entrei no centro cirurgico, na sala dos médicos que tomvam café e assistiam o final de uma novela. Quando se deram conta da minha presença no local eu já avisava: Enquanto vocês querem saber quem matou Odete Roitman, tem uma mulher morrendo lá em cima... e se ela morrer por negligência de vocês, fiquem sabendo que eu filmei todos os acontecimentos e até os detalhes do bate papo de vocês. E aí? Vão pagar para ver?
    Imediatamente um deles se coçou e subiu para ver a parturiente que não paria porque seu bebê estava sentado...
    O negócio é botar mesmo a boca no trombone!!!
    Agora, a pergunta que não quer calar. Onde anda aquela imagem da enfermeira pedindo silêncio que antes era comum nos corredores de hospitais? Será que até ela aderiu?

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