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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Sobrevivendo às internações hospitalares 4

Rio de Janeiro, 20 de janeiro de 2014

Ao querido Doutor xxx e demais membros da Direção do Hospital xxx

Me dirijo aos senhores com a melhor intenção possível, na condição de paciente que já usufruiu dos serviços médico-hospitalares desta instituição e que pretende continuar usufruindo.

Já estive internada, em 2009, para a realização de uma alcoolização septal. Foi a primeira realizada pela equipe, neste Hospital, e o atendimento da equipe médica foi absolutamente espetacular.

O mesmo posso dizer da internação a que fui submetida na semana passada, com o atendimento impecável do Dr. xxx e da Dra. xxx.

A questão que venho apresentar é exatamente o enorme fosso que existe entre o atendimento que recebemos da equipe médica e o que recebemos da equipe de enfermagem.

Já em 2009, fiquei assustadíssima com o ambiente do CTI – Cárdio: extremamente barulhento, desrespeitoso e incompetente.

Depois que fui para o quarto, a insegurança foi grande, com enfermeiros/as e técnicos/as sem a menor habilidade para tratar dos pacientes.

Agora, em 2014, percebi um esforço extraordinário da equipe de enfermagem, da enfermaria, resultando uma melhora bastante positiva, embora ainda longe de ser ótima. Começa a ficar quase boa.

Quanto à equipe do CTI, continua o mesmo despropósito. Os enfermeiros-chefes só trabalham achincalhando os técnicos. É puro assédio moral!

O Sr. xxx e a Sra. xxx são completamente inadequados para estarem à frente de equipes sob seu comando. São desrespeitosos entre eles e com os pacientes – que, na maioria das vezes, se encontram em estado lastimável, e sem condição de reação -. Essas pessoas citadas colocam apelidos nos pacientes. O Sr. que se encontrava no box ao lado do meu, era chamado de brucutu, por ser um homem grande e gordo... mais tarde, já na enfermaria, esse senhor me disse que nunca ficou tão constrangido na vida, e que nunca havia se sentido tão desrespeitado.


Enfim, o CTI/Cárdio é um espaço em que se conversam sobre todos os assuntos pessoais, combinam-se churrascos e baladas, maridos, namorados, novelas e... esquecem literalmente os pacientes. Não há concentração mínima sobre os procedimentos que estão sendo realizados. O pouco que é feito, é feito no 'piloto automático' e sem foco algum.

Os pacientes que ficam nos boxes em frente ao balcão da enfermagem, ainda são vistos. Os que ficam nos boxes mais afastados, ficam horas sem atendimento. Nada do que é pedido é atendido, com um mínimo de dignidade com o paciente. Os que querem urinar ou evacuar têm vergonha de pedir, para não dar trabalho à equipe... Os que não conseguem pedir ficam horas sujos e ainda levam broncas, quando são 'descobertos'.

Entre o bate papo sempre alterado e, em tom de voz bem alto, vez por outra, algum desavisado toca o interfone, atrás de alguma informação. Dentro do CTI, as pessoas têm raiva de terem que atender a essas chamadas e respondem de maneira extremamente grosseira, debochando e xingando os infelizes que ousaram pedir alguma informação, através de um equipamento que está ali exatamente para isso.

A falta de atenção generalizada é assustadora, porque, mais de uma vez, me deram medicação que não era para mim e só consegui impedir de tomar porque estava o tempo todo lúcida e atenta. Sabemos que, num CTI, essa é uma situação atípica. A maior parte dos pacientes não têm condições de zelar por si mesmos.

Quando tive alta para enfermaria foi um alívio! Da mesma maneira que foi um pesadelo, quando eu soube que teria que voltar para o CTI, para realizar um exame mais sofisticado. Não deu outra. Quando cheguei para o tal exame, a enfermeira chefe estava brigando, berrando, xingando e achincalhando com as técnicas, que começaram a cuidar de mim, aos prantos e trêmulas e a enfermeira entrou no box em que eu me encontrava e continuou, aos berros a destratar as técnicas e ignorando a minha presença. É evidente que, num primeiro momento, os eletrodos foram colocados em mim de maneira totalmente equivocada, e tiveram que refazer a tarefa. E eu ainda tive que ir orientando a técnica, e lembrando a ela o que deveria fazer, porque ela estava desequilibrada por conta da discussão.

Sei que esse não é o clima esperado dentro de um CTI. Esse tipo de atitude deixa os pacientes mais estressados do que já estão.

A falta de cuidado começa no primeiro atendimento, para a colocação do soro. Fragilizada como qualquer pessoa na mesma situação que eu, comecei a achar que a culpa era minha, afinal, eu é que tenho fragilidade capilar... e isso já é motivo de deboche e de impaciência.

É muito interessante como a gente se sente acuada diante do aparato médico-hospitalar. Parece que aquilo tudo vai poder nos engolir a qualquer momento, principalmente se não tivermos um bom comportamento...

A questão do bom comportamento fica logo clara para quem chega, só em ouvir os comentários do pessoal da enfermagem a respeito dos pacientes. Logo, logo a gente percebe que o melhor é ficar bem comportadinha...

A atitude pouco adequada de alguns funcionários, ora dando gargalhadas, ora brigando entre si por causa de horários e ‘quem vai cobrir quem, no dia tal’, alguns se xingando, é o retrato rotineiro dentro do CTI.


Por que toda a equipe é nervosa e estressada? Por que as pessoas não são mais calmas, e falam mais baixo?

Os médicos plantonistas, coitados, são ‘engolidos’ pelo clima e parecem até ter medo de ‘exigirem’ um mínimo de educação e comportamento adequado. Fico triste, porque me pareceram todos ainda estudantes e, é lamentável, que eles encarem esse ambiente como sendo ‘normal’ e não façam nada para modificá-lo. Aliás, pelo clima de fofoca reinante, eles devem ter medo mesmo de serem ‘queimados’ pelos chefes da enfermagem.

Presenciei mais uma cena grotesca quando, no sábado à noite, apareceu o médico plantonista da emergência, procurando o plantonista do CTI, porque ele queria tirar uma dúvida com o colega, sobre uma pessoa que ele estava atendendo lá na emergência. Como o plantonista do CTI não se encontrava no local, ele deixou um recado com o Sr. xxx para que, por favor, assim que o colega voltasse, fosse pedido que entrasse em contato, porque ele estava precisando de ajuda. O rapaz mal virou as costas e o enfermeiro diz: “É ruim que vou dar recado... vai morrer esperando... quem manda não saber as coisas...”

E é nesse clima de total descompromisso com o atendimento dos pacientes que segue a rotina do CTI/Cárdio.

Cheguei ao quarto, com uma técnica da UTI e não havia ninguém da enfermagem do andar para me receber no quarto. Me ajeitei como pude e, mais de uma hora depois, é que apareceu a enfermeira para me receber. Por sinal, muito simpática.

Como no CTI, é lógico que mais de uma vez a medicação veio errada e eu tive que intervir.

Concluo que é absolutamente necessário que o paciente esteja lúcido e atento 24h por dia. Não posso imaginar o que pode estar ocorrendo agora com as pessoas que estão inconscientes, ou tão-somente, grogues, por conta dos medicamentos.

Caros doutores, em hipótese alguma quero magoar ou ofender as pessoas envolvidas, mas senti-me da obrigação de relatar para vocês a quantas andam os procedimentos internos do Hospital. Fiquei bastante assustada e insegura com a perspectiva de ter que retornar em outro momento, o que é bastante provável, dada a minha condição de saúde.

Creio que um departamento de pessoal, que promova cursos de capacitação/atualização permanente para a equipe dentre outras coisas, pode ser um bom caminho. É extremamente importante que as prescrições sejam feitas de maneira claríssima pelos médicos! O sistema de comunicação interno pode e deve ser aperfeiçoado, como, por exemplo, quanto ao atendimento dos exames que são solicitados pelos médicos e que levam dias para serem realizados.

Um grande e fraterno abraço,

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