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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Sobrevivendo às internações hospitalares 3

Depois de ser submetida a uma alcoolização septal que, literalmente, me provocou um infarto em duas artérias (é o que eu acho...), para que eu pudesse ficar quase boa, evidentemente, fui para o CTI coronariano.


Eu, embora tranquila com relação ao sucesso do procedimento, e absolutamente confiante no meu médico e em toda a equipe, estava bastante fragilizada e preocupada, uma vez que pouquíssimas pessoas já haviam se submetido à tal alcoolização, nos termos em que o meu coração se apresentava. Não foi à toa que meu caso fez parte de vários estudos e apresentações em congressos de Medicina.

Meu médico já havia me avisado que quando a anestesia passasse, eu iria sentir um peso muito forte no peito, mas que era normal, era a sensação do infarto. Tudo correu como ele disse e estava lá do meu lado.

Já no CTI, havia uma TV em cada “baia” - continuo sem saber o motivo – na minha, estava passando um emocionante jogo de futebol, do São Paulo com a Ponte Preta, que, evidentemente, muito colaborou para a minha recuperação. Assisti até o final, quando entrou um rapaz da equipe de enfermagem e falou: “vou desligar, tá? Já são 23h e tá na hora de você descansar”... Concordei plenamente, afinal, eu não havia pedido para assistir coisa alguma, e já sabendo que era o momento em que eu deveria ficar mais atenta.

Às cinco da manhã, naquele velho esquema de tortura, para deixar os pacientes mais infelizes e tendo certeza de quem é que manda ali... chegou um dos rapazes da equipe de enfermagem para fazer aquela rotina toda, inclusive a minha higiene.

Ah, outra coisa bem legal, também, é aquele banho de gato que eles dão na gente e que quase nos mata de frio, porque a água está sempre mais ou menos morninha, e o CTI ou a UTI estão sempre com os aparelhos de ar condicionado no máximo, como tem que ser mesmo, por causa da aparelhagem.

E eis que ele se depara com as minhas pernas abertas, retas e amarradas, impossibilitando qualquer movimento, e com uma espécie de “tijolo” de espuma, fortemente contraído sobre cada virilha. É um procedimento normal, utilizado para ajudar a estancar o sangue da veia (femural) utilizada durante o procedimento e prevenir quanto a hemorragias. Quer dizer, é normal em uma das virilhas, mas eu estava naquela situação nas duas... E então, o técnico de enfermagem chega, levanta o meu lençol e dá um berro: “Gente!!! Ela está presa nas duas pernas! Nunca vi isso!!! Gente, vem ver!”, e imediatamente chegaram os colegas e todos ficaram escandalizados com a situação. Foi quando o rapaz me perguntou: “Querida, como é que você vai voltar a andar???”. Eu respondi, com muita humildade (que é essencial nesses casos), “Ué, achei que você é que iria me dizer...”


E assim correram os dias, naquele ambiente escandalosamente barulhento – por causa das pessoas que lá trabalham, que só se comunicam aos berros e às gargalhadas, de maneira bastante apropriada para um CTI.

Finalmente, fui para o quarto. Era uma enfermaria grande, com quatro camas, mas apenas uma estava ocupada por outra paciente. O maqueiro e um técnico me deixaram lá na cama.

Como sempre, não apareceu ninguém para me admitir. É um padrão de conduta, que é o/a enfermeiro/a responsável pelo andar, venha receber o 'novo' paciente. Mas, nada. Passados uns 30 minutos, a minha companheira de quarto se vira na cama e diz: “É ruim de aparecer alguém por aqui... a gente morre pendurada na campanhia e ninguém aparece...”.

Tive sorte, depois de uma hora e meia, mais ou menos, apareceu uma enfermeira - totalmente por acaso - que ficou muito espantada com a minha presença no quarto.
Tive azar, porque precisei que mudassem a veia que estava ligada ao soro e aos medicamentos, e mais uma vez, a tiradora de sangue fica muito aborrecida comigo, por causa das minhas péssimas veias (essa já um clássico).

E aí começa-se um novo momento, em que é fundamental cuidarmos de nós mesmos, caso queriramos nos manter vivos. Tudo o que pode dar errado, dará, caso você não esteja tomando conta de você mesmo.

Foi a alimentação que veio com ingrediente ao qual eu sou alérgica (evidentemente, essa informação havia sido passada para a nutricionista). A profissional preenche duas páginas com uma entrevista que faz com você. Ela pergunta: “É alérgica a algum alimento?” Resposta: “Sim, não posso comer abacaxi.” Na refeição seguinte já veio uma gelatina de abacaxi de sobremesa pra mim...

E os também já clássicos erros de medicação. A gente pergunta o que a técnica está trazendo pra você tomar, e ela responde com algo que não faz parte do seu repertório medicamentoso. Ao ser questionada, responde que está lá no prontuário. Você insiste, com muito jeitinho, que ela vá até lá só para confirmar, e ela não volta mais.

Finalmente, tive alta. Mas a saga continua.

Um comentário:

  1. Seguindo seus exemplos, como sempre, resolvi infartar também... Minhas experiências de CTI são inesquecíveis. Em um deles fiquei aguardando a medicação noturna que não chegava nunca... diante do meu quadro e com medo de irritar o corpo de enfermagem fiquei quieta observando um box a minha frente onde fecharam as cortinas e a única médica do plantão se esfalfava para salvar a criatura no leito escondifo pelas cortinas. Foi quando o estalo se deu!! Resolvi que iria gritar em plenos pulmões exigindo minha medicação!!!
    Escândalo em andamento, os auxiliares de enfermagem afirmavam que já haviam me dado a medicação e eu aos berros dizia que não, que estavam mentindo... A doutora já totalmente descabelada saiu do box tendo feito o que podia pela paciente que lá estava, veio para meu leito disposta a defender sua equipe e eu disse para ela que calasse a boca porque eu havia visto o momento em que derrubaram meus comprimidos no chão que foi imediatamente varrido e que os remédio não tinham sido ministrados em mim porque estavam no lixo! A médica, acreditando estar resolvendo o problema mandou que trouxessem minha medicação novamente.
    A enfermeira chegou com os comprimidos e eu perguntei para ela se todos estavam alí... ela disse que sim e eu disse que não. Ela afirmava que sim e eu dizia que ela mentia porque não estavam todos lá. A médica tomou ares de autoridade defendendo a equipe e engrossou comigo. Mandei que ela calasse a boca e que não defendesse assim pessoas que ela não conhecia e que agindo daquela forma ela jogaria os anos de estudo e seu diploma junto com meus remédios... no lixo. Só então fiz a pergunta que provaria à médica da certeza que eu tinha... Me virei para enfermeira e disse que ela estava mentindo porque se toda a medicação estivesse alí teria que estar também o meu rivotril em gotas! A enfermeira arregalou os olhos! Então concluí. O meu rivotril foi dado para aquela senhora que vocês deixaram desacordada naquele box de cortinas fechadas! Vocês trocaram a medicação e se a idosa falecer por isso e dou queixa na polícia e a doutoura vai perder o diploma!!!!
    Corre, corre no CTI, recebi minha medicação completa e salvei a velha... Plantões noturnos em CTI parecem uma festa, muito barulho e pouca responsabilidade. Solicitei a papelada para que eu assinasse a responsabilidade de sair do CTI e voltar para casa. A doutora com muito medo disse que eu não podia fazer aquilo porque estava programado um cateterismo para mim. Eu respondi que em meu coração ninguém naquela espelunca poria a mão. Assinei, meu marido veio me buscar e fui procurar outro hospital... Aff!

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